segunda-feira, 21 de julho de 2008

Grandes Sertoes, Veredas (de Guimaraes Rosa)

GRANDE SERTÃO: VEREDAS, de GUIMARÃES ROSA

A TV Globo transformou esse belissimo romance em uma minissérie de Wálter George Durst colaboração de José Antônio de Souza baseada no romance homônimo de Guimarães Rosa direção geral de Wálter Avancini, e estrelado por:

TONY RAMOS (como Riobaldo (Tatarana); BRUNA LOMBARDI (como Diadorim (Reinaldo); TARCÍSIO MEIRA (como Hermógenes ), e muitos outros grandes atores/atrizes. Todos com uma magnifica interpretacao.

"Tivesse medo? O medo da confusão das coisas, no mover desses futuros, que tudo é desordem. E, enquanto houver no mundo um vivente medroso, um menino tremor, todos perigam - o contagioso. Mas ninguém tem a licença de fazer medo nos outros, ninguém tenha. O maior direito que é meu - o que quero e sobrequero -: é que ninguém tem o direito de fazer medo em mim."

Grande Sertão: veredas
Guimarães Rosa

Riobaldo, protagonista do romance Grande Sertão: Veredas, percebe que o medo é contagioso e reconhece o seu direito de não lhe fazerem medo. Munido de tal certeza, embrenha-se por entre as veredas mortas em busca de um pacto com o diabo. Procura uma encruzilhada sombria e permanece a espera do tinhoso.

"O que tinha por mim - só a invenção da coragem."
A noite passa dentro do personagem. Os espectros das veredas sombreiam seu corpo e incorporam as expectativas e visagens do jagunço. Os primeiros raios do amanhecer iluminam a obscuridade de Riobaldo. O pacto com o diabo é um pacto com ele próprio. O personagem é fortalecido com a apropriação do medo. O agente do perigo é ele e não a projeção no mundo do "coisa ruim" que aprendeu desde criança a temer e respeitar.
"Posso me esconder de mim?" O questionamento abre a chaga do verdadeiro mistério. Riobaldo deixa-se abater pela febre na claridade.

"Viver é muito perigoso", "viver é um descuido prosseguido", mas o jagunço, com tiro certeiro, afirma que "viver é etcétera". A infinidade de veredas que podemos perfilar na oração de nossas ações. As possibilidades podem estar sob as sombras dos nossos receios.

O homem e suas projeções, ações e omissões num mundo indiferente. Os conflitos humanos construindo e destruindo as teias de vivências. É necessário viver o paradoxo. Ser heroicamente autor de nossas covardias... Será?

E a coragem de criar, de retalhar o medo na intimidade e desafiar o mundo como Riobaldo desafia ao lançar-se num pacto com o representante do Mal?

A coragem de construir alicerces para nossa incompletude. Assumir o risco pelo dano que podemos nos causar... "Viver é etcétera..."

Riobaldo reacendeu a coragem na conquista de um novo espaço no mundo.
O mundo é indiferente, o mal é apenas uma projeção... O ser é o cerne de seu temor, o vir a ser e o não ser... os grandes interditos... O direito está em ser o único perigo real.

"Medo agarra a gente é pelo enraizado." Estar preso às raízes pode impossibilitar um olhar mais amplo para as conquistas dos novos horizontes. Presos às limitações dos sentidos, resta-nos permanecer na situação, culpando o medo e o remorso por nossa inação.

Na vida devemos valorizar nossas origens nas raízes que nos prendem aos solos, mas devemos construir nossas antenas para poder compartilhar as inovações do mundo e enfrentá-las com segurança.

"Só temos que temer o próprio medo." Edgar Morin, com outras palavras, afirma o direito declarado por Riobaldo e elabora o mistério "Todo mistério do mundo está no nosso espírito. Todas as estruturas do nosso espírito são projetadas ao exterior, sobre o mundo."

A realidade se perde, pois só pode ser concebida se o sentimento for iniciado no homem e nele terminar com a atitude de um pacto em que o medo passa a compor para um objetivo... Contudo, quando o homem perde a noção da extensão de si e dos seus atos, os sentimentos são projetados para o outro, o medo surge como a impotência de ser para si, como a negação de ser para o outro.

Guimarães Rosa desvenda os sertões, abre veredas de lucidez e sensibilidade por intermédio do jagunço Teobaldo. Quantas são as passagens que poderiam ser objetos de ensaios! Quantas exclamações salientam a pluralidade do homem! Quantos sertões existem a serem desbravados!

O final do romance umedece todas as sensações. A morte de Diadorim, o menino da travessia do São Francisco que cresceu, cruzou os sertões em vida de vingança e morreu em combate num corpo feminino, é toda a poesia.

Neste momento a prosa de Guimarães Rosa é imagem, som e pensamento - as veredas, os versos a construir o poema-sertão.

O leitor, seduzido, vivencia a emoção sem poder decifrar a simbologia de tantas metáforas, envolve-se de forma plena sem ter a real percepção de suas emoções. O encontro de Teobaldo e Diadorim se dá na impossibilidade. O mistério se apaga nos finos lábios que, calados, se tornam sertão.

O ser humano na travessia, muitas vezes teme ousar por novas veredas, amedronta-se diante de novas abordagens - a incapacidade aniquila o paradoxo e estagna o homem na limitação do perigo aparente.

Guimarães Rosa ousou. Criou uma nova linguagem e inovou no desenvolvimento do enredo, retratando áridas vidas que compõem os sertões do mundo, sem temer a crítica. O grande desafio estava em transformar em literatura a sua percepção do mundo e dos semelhantes.

Ninguém teve o direito de lhe fazer sentir medo. Nós, leitores, admiramos sua coragem criativa e sua grande obra e devemos nos preencher das metáforas do caminho para assumir o pacto com nossa ambigüidade.

Conscientes de que o medo se instaura na ausência da força de uma realização. Concretizemos nossos ideais para estabilizarmo-nos diante da confusão das coisas num futuro incerto dentro da perspectivas dos caminhos que se descobrem nos primeiros passos.

(Helena Sut)


SINOPSE
Eh a historia de dois jaguncos, e da amizade que os unia. No sertão de Minas, nas primeiras décadas do século XX, as tropas federais, representadas por Zé Bebelo, estão em conflito com as forças provinciais, apoiadas por exércitos de jagunços.

O vaqueiro Riobaldo narra sua vida de jagunço: são histórias de disputas, vinganças, longas viagens, amores e mortes vistas e vividas pelo ex-jagunço nos vários anos que este andou por Minas, Goiás e sul da Bahia.

Riobaldo era um dos que percorriam o sertão abrindo o caminho à bala. Entre seus companheiros, havia um que muito lhe agradava: Reinaldo, ou Diadorim.

Conhecera-o quando menino e mantinha com ele uma relação que muitas vezes passava de uma simples amizade.

O jagunço, que admirava e cultivava um terno laço com Diadorim, perturbava-se com toda aquela relação, mas a alimentava com uma pureza que ia contra toda a rudeza do sertão, beirando inclusive o amor e os ciúmes.

Nas longas tramas e aventuras dos jagunços, Riobaldo conhece um dos seus heróis: o chefe Joca Ramiro, verdadeiro mito entre aqueles homens, que logo começa a mostrar certa confiança por ele, e o apelida de Tatarana. Isso dura pouco tempo, já que Riobaldo logo perde seu líder: Joca Ramiro acaba sendo traído e assassinado por Hermógenes, um dos seus companheiros.

Riobaldo jura vingança e persegue Hermógenes e seus homens por toda aquela árida região. Como o medo da morte e com uma curiosidade sobre a existência ou não do diabo, que toma cada vez mais conta da alma de Riobaldo, evidencia-se um pacto entre o jagunço e o príncipe das trevas, apesar de não explícito.

Acontecido ou não o tal pacto, o fato é que Riobaldo começa a mudar à medida que o combate final contra Hermógenes se aproxima.

E a crescente raiva do jagunço só é contida por uma relação mais estreita com Diadorim, que já mostra marcas de amor completo.

Segue-se, então, o encontro com Hermógenes e seus homens, e a vingança é enfim saboreada por Riobaldo.

Vingança, aliás, que se tornou amarga: Hermógenes mata, durante o combate, o grande amigo Diadorim.

Ao final, uma surpreendente revelação: na hora de lavar o corpo de Diadorim, Riobaldo percebe que o velho amigo de aventuras que sempre lhe cativou de uma forma especial era, na verdade, uma mulher: Deodorina, filha de Joca Ramiro, disfarçada em homem

2 comentários:

Unknown disse...

nseguir uma cópia desta mini série ?

Unknown disse...

Como conseguir uma cópia desta mini série ?